quinta-feira, 24 de junho de 2010

Os delírios coletivos do futebol

Teste seus conhecimentos de futebol e cultura, ou seria da cultura do futebol?

Quem escreveu o texto abaixo:

( ) Fátima Bernardes em seu blog. ( ) Monteiro Lobato. ( ) Lucas Brisola em seu Blog ( ) Mauro Neves ( ) Milena Ceribeli ( ) Charles Miller

No final do texto você terá a resposta, mas leia antes, vale a pena.

Os jogos de futebol são delírios coletivos provocados pelo combate de dois campeões em campo. Impossível assistir-se a espetáculo mais revelador da alma humana que os jogos de futebol em que disputam a primazia duas seleções.

Não é mais esporte, é guerra. Não se batem duas equipes, mas dois povos, duas nações, duas raças inimigas. Durante todo o tempo da luta, de quarenta a cinqüenta mil pessoas deliram em transe, estáticas, na ponta dos pés, coração aos pulos e nervos tensos como cordas de viola. Conforme corre o jogo, há pausas de silêncio absoluto na multidão suspensa, ou deflagrações violentíssimas de entusiasmo, que só a palavra delírio classifica. E gente pacífica, bondosa, incapaz de sentimentos exaltados, sai fora de si, torna-se capaz de cometer os mais horrorosos desatinos.

A luta de vinte e duas feras no campo transforma em feras os cinqüenta mil espectadores, possibilitando um esfaqueamento mútuo, num conflito horrendo, caso um incidente qualquer funda em corisco as eletricidades psíquicas acumuladas em cada indivíduo.

O jogo de futebol teve a honra de despertar o nosso povo do marasmo de nervos em que vivia. Antes dele, só nas classes médias a luta política tinha o prestígio necessário para uma exaltaçãozinha periódica.

E isso porque de todos os esportes tentados no Brasil só o futebol conseguiu aclimar-se, como o café. Hoje, alastrado de norte a sul, transformou-se quase em praga, conseguindo, só ele, interessar vivamente, exaltadamente, delirantemente, o nosso povo.

No estado de São Paulo não há recanto, viloca, fazenda, bairro onde não sejam vistos num chão plaino e batido os dois retângulos opostos, assinaladores dum ground. Pelas regiões novas, de virgindade só agora atacada pelos invasores, é comum topar-se de súbito, em plena mata, uma clareira aberta, limpa, onde nas horas de folga os trabalhadores vêm bater bola.

Resposta.

Se você escolheu Fátima Bernardes, fez uma boa escolha, mas não acertou.

Se você escolheu Lucas Brisola, agradeço a consideração, principalmente se acessou meu blog.

Se escolheu Mauro Neves, sabe que ele é comentarista esportivo, mas não foi ele o autor.

Se achau que foi Milena Ceribeli, ela agradece a lembrança, mas você também errou.

Se acertadamente sabe que Charles Miller trouxe o futebol para o Brasil e o escolheu, você errou.

Se chutou em Monteiro Lobato, não fique surpreso, o cara era mesmo craque da literatura e você fez um golaço.

O texto foi extraído do livro a Onda Verde de Monteiro Lobato, escrito em 1921, com edição de 2008 pela Globo. Pg, 119-120 com pequenas adaptações. ISBN 978-85-250-4549-2

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