Parada da provocação ou do
clamor?
Protestar contra a homofobia
também é um direito legítimo, mesmo porque faz parte da liberdade de expressão,
assim como ser contrário ao homossexualismo, porém há limites para ambos.
A edição da Parada Gay em São
Paulo no dia 07/06/2015, fez a maior provocação e protesto contra o que eles
consideram homofobia e levou essa expressão, para alguns ao extremo da ofensa, ao
colocar lésbicas representando o Cristo crucificado.
Isso provocou reações variadas
dos evangélicos, mas todas elas de repúdio, em menor ou maior grau. Alguns
retornaram as ofensas com ofensas e outros foram mais comedidos.
Enquanto os contrários à fé
cristã estavam metendo o pau na igreja, nós ainda íamos aceitando sem grandes
problemas porque se entendia que a igreja atacada era a instituição humana, e
por sinal, bem humana, mas agora a coisa mudou de figura.
Ainda que alguns entendam que o
que apresentaram tenha sido apenas uma afronta a um símbolo, não é de todo
verdade. O símbolo na verdade foi utilizado para afrontar aquele que é
representado pelo símbolo, a Igreja! Ops, não seria o Cristo?
Aqui que está a grande enrascada.
Quando o Cristo foi afrontado através daquela simbologia, a Igreja, não aquela
humana, nem a Católica, nem a Evangélica, foi afrontada, mas aquela que é o
corpo de Cristo. A Igreja que é o próprio Cristo, a Igreja que é chamada de
invisível e, infelizmente, assim o tem ficado!
Devemos nos lembrar que quando
Jesus encontrara Paulo no caminho de Damasco a pergunta foi: “por que você está
me perseguindo?” Como assim? Paulo não estava perseguindo a igreja? Pois é,
Jesus se identifica com ela [1] e depois Paulo vai dizer em suas cartas que
Jesus é o cabeça da Igreja [2]. Se Jesus é o cabeça e a igreja corpo e se um
ser com essa figura de linguagem só é completo com cabeça e corpo, então a
Igreja é Jesus!
Ao longo dos anos a teologia
classificou a igreja em duas partes, a visível, que é aquela dos membros que
encontramos arrolados em um livro ou, nos tempos atuais, num banco de dados, e
a invisível, que é aquela dos pecadores arrependidos e que receberam o presente
da vida eterna e tem seus nomes arrolados no livro da vida, lá no céu,
independentemente do livro da terra! Ora, Jesus não faz essa distinção!
Justamente porque Jesus não faz a
distinção é que nos encontramos nessa grande enrascada. Não deveria haver
igreja visível e invisível. A visível deveria representar fielmente a
invisível, o que, infelizmente não acontece e pior, nós, da visível, temos
escondido a invisível.
Esse esconder da invisível pela
visível pode ser visto por essa situação na Parada Gay porque a afronta foi ao
Cristo, mas quem expressou a contrariedade ao homossexualismo foi a igreja!
Num certo aspecto isso é bom,
porque demonstra essa estreita relação, que realmente deve existir entre a
igreja e Cristo, mas é ruim porque a igreja não conseguiu expressar os aspectos
acolhedores de um Cristo que recebe o pecador no estado em que se encontra e tem
tentado enfiar goela abaixo as verdades transformadoras da salvação.
Jesus veio para buscar e salvar o
perdido e isso inclui os homossexuais, como também os adúlteros, mentirosos,
corruptos e um montão de hipócritas. Mesmo que cada um desses, ou de outros
tipos, acreditem que essas ou outras coisas não o sejam problemas para a
entrada no Reino de Deus, a realidade não mudará simplesmente por não se crer
nela! [3]
A igreja visível também se
esqueceu de que Jesus veio para os doentes e que os são não precisam de médico.
Sei que agora o homossexualismo não é mais considerado doença, mas o que isso
muda? Não estamos tratando de doença física ou emocional, mas de espiritual. E
não será a medicina ou a psicologia que vai ditar o que é ou não é doença espiritual,
mas, para nós, é a Bíblia. É disso que estamos falando! [4]
Houve também o esquecimento de
que Jesus recebeu em seu grupo pessoas com as mais complicadas situações da
vida. Prostitutas, que daqui a pouco vão dizer que a igreja é cipridofóbica
(que é difícil até de achar no dicionário), corruptos, adúlteros, e por aí vai,
foram aceitas como discípulas de Jesus e por que não homossexuais?
No entanto, todos ainda se
lembram e os homossexuais querem ficar de fora, Jesus não pediu, mas exigiu,
mudança de vida! Não importa o pecado a que estejamos atrelados, dos mais
horrendos, como o assassinato, pedofilia, aos mais tolerados, como a mentira ou
a gula, de todos eles Jesus exige arrependimento e abandono. O homossexualismo
é apenas um deles, queiram eles aceitar ou não. [5]
A Igreja, e muito menos Jesus, o
Cristo crucificado, nunca deixaram de ter suas mãos estendidas para qualquer
pecador que deseje o arrependimento e a mudança de vida. Aqueles que estão na
igreja já passaram por essa transformação e continuam passando, isso é um
processo e, muitas vezes, árduo e doloroso, mas necessário, porque Jesus exige
transformação, não simplesmente porque ele a quer, mas porque ele ama aquele
que precisa dela e porque ele dá todas, sim, todas, as condições para isso,
aliás, ele opera a transformação. [6]
Se hoje a Igreja ou o Cristo são
considerados homofóbicos, não é porque o são, mas porque os homossexuais querem
continuar em suas práticas e obterem a aprovação para o seu pecado. Mas para
quê? Para que querem a aprovação da igreja? Mesmo que a igreja o aprove, isso
nunca mudará o fato do pecado, porque não é a igreja que define o que é e o que
não é pecado, mas sim Deus através da Bíblia.
Nesse caso podemos pensar que as
manifestações de domingo não foram provocações ou protestos contra a Igreja ou
contra Cristo, mas foram um clamor daqueles que querem ser aceitos por um Deus
que os ama, mas odeia o pecado deles. Devemos olhar para essas pessoas como
quem clama: “Cristo, venha me salvar! Só você poder mudar a minha situação.”
Por fim precisamos aprender com
os eventos e não simplesmente criticá-los. Precisamos aprender que a Igreja
precisa continuar lutando contra o pecado, seja ele qual for, esteja ele dentro
ou fora dela, mas acima de tudo, a Igreja precisa mostrar que está aberta para
receber qualquer tipo de pecador, pois será mais um além dos que já estão
dentro e deve se preparar para isso. A igreja visível precisa mostrar que há um
Cristo além daquele que odeia o homossexualismo, há um Cristo que ama, ama
muito, ama de tal maneira o homossexual que até morreu na cruz por ele!
[1] – Atos 9:4-5
[2] – Efésios 4:15 e 5:23
[3] – Romanos 1:26-27; 1
Coríntios 6:9; Gálatas 5:19-21; Efésios 4:25
[4] – Mateus 9:11-13
[5] – João 5:14; 8:11; Efésios
1:4; 5:3; Colossenses 1:21-23; I Pedro 1:14-16
[6] – 1 Coríntio 10:13; Tiago 4:7
Lucas Brizzola
19/06/2015
Este texto também foi publicado na edição de Agosto 2015, pg 25, de "O Estandarte", órgão oficial da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil. Ano 123 - nº 08.
Este texto também foi publicado na edição de Agosto 2015, pg 25, de "O Estandarte", órgão oficial da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil. Ano 123 - nº 08.